No Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), a Dra. Maria José Clavijo
Michelangeli apresentou soluções inovadoras para proteger a saúde respiratória
de leitões no pós-desmame
Na suinocultura brasileira, abriu-se um verdadeiro palco de
conhecimento para debater um dos desafios mais persistentes da produção animal:
as doenças respiratórias
O evento, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos
Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), transformou o Centro de Cultura e
Eventos Plínio Arlindo de Nes, de Chapecó (SC), em um ponto de convergência de
ideias, tecnologia e inovação. A apresentação da Dra. Maria Jose trouxe à tona
um aspecto crítico, muitas vezes subestimado: o impacto que o desmame exerce
sobre a saúde respiratória dos leitões. Este período, marcado por intensa
mudança alimentar, separação da mãe e adaptação a novos ambientes, impõe alto nível
de estresse aos animais e abre caminho para que bactérias endêmicas causem
infecções potencialmente devastadoras.
Segundo a especialista, essas doenças podem representar até
45% das mortes na fase de creche e ultrapassar 60% nas fases de recria e
terminação. “As doenças respiratórias bacterianas em suínos são complexas e
multifatoriais. Resultam da interação entre agentes infecciosos, fatores
ambientais e práticas de manejo, impactando negativamente o ganho de peso, a
conversão alimentar, os custos de produção e a taxa de mortalidade”, destacou.
A palestrante enfatizou que o combate a esses patógenos
exige uma abordagem integrada, que combine vacinação estratégica, melhoria das
condições ambientais, dietas balanceadas e de fácil digestão, biosseguridade
rigorosa e monitoramento contínuo. “Não se trata apenas de tratar doenças, mas
de preveni-las de forma inteligente e sustentável”, afirmou. Durante sua fala,
apresentou dados recentes sobre protocolos de vacinação com dose de reforço
para Mycoplasma hyopneumoniae. A estratégia, já adotada por algumas
empresas, mostrou resultados promissores em cenários com alta pressão de
infecção. “Estamos vendo uma oportunidade concreta de controle mais efetivo. O
reforço vacinal aplicado no início da recria ou no início da terminação tem
mostrado resposta positiva tanto nos dados de campo quanto em análises
laboratoriais”, explicou.
A trajetória de Maria Jose Clavijo Michelangeli, confere
peso a cada recomendação. Formada
Além de apresentar soluções técnicas, sua palestra teve um
tom inspirador. “O Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), nos dá a
oportunidade de discutir algo extremamente aplicado e atual. São ferramentas
que podem auxiliar imensamente o produtor no combate às doenças respiratórias
na terminação. Mas, para que funcionem, é preciso compreender o problema em
toda a sua complexidade e estar disposto a investir em prevenção”, ressaltou.
A pesquisadora também abordou a presença de patógenos
considerados epidêmicos em alguns países e sistemas de produção, bem como a
atuação conjunta de agentes que formam o chamado complexo respiratório suíno.
Apresentou ferramentas para diagnóstico e destacou os custos significativos que
essas doenças acarretam, incluindo a dependência crescente do uso de
antibióticos. Chamou atenção para o papel crítico das infecções virais, que
podem agir como gatilhos ou aceleradores das bactérias, tornando essencial compreender
e controlar esses vírus para obter sucesso no combate às infecções bacterianas.
Explicou que os patógenos respiratórios são complexos porque possuem
comportamento oportunista, persistem por longos períodos no ambiente e podem
contaminar tanto pelas vias aéreas superiores quanto por contato nasal direto.
Segundo ela, com dados compilados ao longo do tempo, é
possível melhorar a seleção de vacinas, otimizar o uso de medicamentos,
identificar a origem de surtos e reorganizar fluxos e misturas de lotes,
avançando para uma prevenção realmente proativa. Ao tratar do Mycoplasma
hyopneumoniae, ressaltou sua transmissão lenta e o diagnóstico desafiador,
reforçando a necessidade de vigilância contínua e de estratégias adaptadas à
realidade de cada granja.
Ao final, deixou uma mensagem aos participantes, “cada
respiração saudável de um leitão é mais do que um sinal de vida, é um
indicativo de que estamos no caminho certo para uma produção mais eficiente,
responsável e sustentável. Proteger o pulmão do animal é proteger o fôlego da
suinocultura brasileira”. E lembrou que, no campo, cada segundo conta, “se
cuidarmos do ar que entra, estaremos garantindo o futuro que sai — em forma de
produtividade, bem-estar e longevidade para toda a cadeia”.