O mundo passa por grandes mudanças em diversos setores e a avicultura, assim como outros sistemas de produção animal, apresenta desafios tanto imediatos quanto ao longo dos próximos dez anos. Entre os debates em destaque na agropecuária mundial está o bem-estar animal, tema abordado pelo zootecnista Victor Abreu de Lima em sua palestra “implementação de indicadores de bem-estar animal como ferramenta de gestão da avicultura”, no 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura. A apresentação integrou o Bloco Manejo e ocorreu nesta quinta-feira (11), último dia do evento promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet).
Alguns exemplos de desafios emergentes na avicultura, segundo o especialista em Gestão de Projetos Inovadores, são o desenvolvimento de novas tecnologias e mudanças em prol de melhores práticas de manejo dos animais. “Um dos motivos dessas transformações está relacionado com a demanda dos consumidores. As novas gerações estão cada vez mais atentas aos processos de produção de aves. A facilidade para obtenção de informação na internet e nas redes sociais tem impulsionado cobranças por melhores práticas na produção animal”, destacou Victor ao introduzir sua explanação.
O zootecnista relatou que os indicadores
de bem-estar animal começaram a ser produzidos no ano de 2009. “Esse é um
grande avanço, um projeto que iniciou em 2009 e hoje fazem parte do dia a dia de
empresas e auditorias de bem-estar”. Victor evidenciou que os indicadores
permitem avaliar as condições dos animais como o conforto térmico, através da
observação de comportamento, a limpeza e o manejo.
“Bem-estar animal é ciência e precisamos
tratá-lo dessa maneira”. São aplicados atualmente, segundo o especialista,
cinco domínios de avaliação de bem-estar animal. Estes interferem de forma
conjunta no animal e não podem ser avaliados sem levar em consideração a
influência que um tem sobre o outro. Baseado nesses elementos é possível desenvolver
os indicadores de bem-estar, evidenciou. Os cinco domínios apresentados são
nutrição, ambiente, saúde, comportamento e estado mental. “Para atender os
domínios é necessário compreender os desafios, entender os pontos críticos e
mensurar os indicadores”.
De acordo com o especialista, se o
manejo for feito inadequadamente, corre-se o risco de ter grande prejuízos no
bem-estar animal, bem como prejuízos financeiros. Victor apresentou estatísticas
que demonstraram como os treinamentos para manejo são capazes de transformar os
resultados obtidos nas granjas.
Novas praticas na produção de aves estão
sendo propostas por organizações envolvidas com o setor, como é o caso do
Better Chicken Commitment (BCC), explanou o zootecnista. “O BCC é um
compromisso voluntario adotado por algumas empresas que vem ganhando destaque
nos últimos anos. O projeto tem como objetivo principal melhorar as condições
de bem-estar dos frangos de corte nos sistemas produtivos”. Dentre as propostas
sugeridas pelo BCC estão alojar as aves em uma densidade, fornecer
enriquecimento ambiental, propor auditoria de terceiros e mudança das linhagens
de criação buscando genéticas de crescimento mais lento. “O bem-estar animal é
um grande desafio, mas temos a capacidade superá-lo”.
BIOSSEGURIDADE E DESEMPENHO ZOOTÉCNICO
Sabe-se que a biosseguridade e o
desempenho zootécnico estão associados. Mas como encontrar o equilíbrio entre
eles? A questão foi discutida pela médica-veterinária
Isabella Lourenço dos Santos nesta quinta-feira (11), durante o 24º
Simpósio Brasil Sul de Avicultura.
A biosseguridade é a medida mais efetiva
para controle e prevenção de doenças em aves e para a manutenção de um status
sanitário adequado aos lotes. Porém, a especialista alertou sobre seus
conceitos não serem levados em consideração da maneira como deveriam. “O
problema é que o clima mudou, a ave mudou, o manejo mudou. Tudo está mais
potencializado e muitas vezes a ferramenta é avaliada como uma questão de
custo-benefício. E não pode ser assim. Biosseguridade é uma avaliação de risco.
Até onde eu posso ir sem garantir risco à minha produtividade? Porque não
existe nenhuma atividade com zero risco.”
Segundo Isabella, somente o equilíbrio
entre os fatores vai permitir uma
produtividade com um custo de produção adequado, garantindo desempenho e condenação,
e trabalhando a biosseguridade como uma ferramenta principal para a prevenção e
o controle de doenças. Para exemplificar a importância do conjunto de
procedimentos técnicos, a palestrante apresentou o entendemento da tríade epidemiológica, que afirma que a
doença é o resultado das forças dentro de um sistema dinâmico e consiste de um
sistema com agente da infecção, hospedeiro e meio ambiente.
Destacou ainda
a equação da situação sanitária avícola que aponta como as falhas de manejo, de
integridade intestinal, dos fatores imunossupressores e falhas respiratórias
resultam significativamente em baixo desemprenho produtivo. “A equação é
simples. Quanto maior for a pressão de contaminação do meu ambiente, maior será
a pressão de infecção para a as aves, maior será o gasto energético e menor
será o desempenho”, refletiu Isabella.
Ao finalizar
sua exposição, a especialista apontou que a avicultura brasileira tem três
grandes desafios pela frente: a abertura de novos mercados, a dinamização dos
mercados existentes e a manutenção status sanitário dos plantéis. “Quando aplicamos
os conceitos de biosseguridade, eles são traduzidos em desempenho técnico e, no
final, esse é o objetivo. Se tivermos um programa estabelecido, um programa
efetivo de biosseguridade, ele com certeza estará atrelado a melhores
resultados. E talvez esse é o nosso principal foco hoje em dia como avicultura”.