Estudos que examinaram o impacto do estresse calórico e do resfriamento sobre vários aspectos da produtividade e da saúde no período seco de vacas leiteiras foram explanados pelo doutor, professor do departamento de Zootecnia (Animal Science) na Universidade da Flórida, Geoffrey Dahl, nesta quinta-feira (11), no terceiro e último dia do 10º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL). O evento é promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet) e paralelamente ocorre a 5ª Brasil Sul Milk Fair virtual.
De acordo com o professor, os
impactos do estresse por calor nas vacas leiteiras se tornam uma ameaça maior à
saúde e à produtividade. Ele frisou que, historicamente, a redução do estresse
por calor tem se concentrado na vaca em lactação. “Nesse período, o estresse
calórico reduz a produção de leite, altera a composição, diminui a ingestão de
matéria seca e afeta negativamente a saúde e a reprodução. A redução do calor
envolve o resfriamento ativo das vacas, geralmente por meio da aplicação de
água por meio de aspersão e movimento de ar usando ventiladores para secar a
pele e remover o calor à medida que a água evapora. Um foco na parte produtiva
do rebanho é lógico, mas há evidências crescentes de que ignorar o estresse
térmico da vaca seca levará a resultados negativos na produtividade, na saúde e
até mesmo na prole dessas vacas”, alertou.
As vacas secas sob estresse térmico
consomem menos ração do que companheiras resfriadas e parem de três a cinco
dias antes. O crescimento glandular mamário é menor em vacas secas sob estresse
térmico e, no final da gestação, o calor também altera o estado imunológico das
vacas, tanto diretamente no período seco quanto indiretamente durante a próxima
lactação. “Esses resultados indicam um efeito depressivo direto sobre o estado
imunológico. Após o parto, apesar de serem resfriadas ativamente, as vacas que
sofreram estresse térmico quando secas apresentam menor imunidade, ou seja, o
estado imunológico é melhorado com o resfriamento do período de seca”, expôs
Dahl, ao acrescentar que o impacto na produtividade leiteira é de quatro a
cinco litros a menos de leite por dia.
O especialista relatou, ainda, que
diversos estudos mostram que qualquer estresse térmico durante o final da
gestação é prejudicial à produtividade futura. Além de influenciar profundamente
a vaca, tem implicações negativas significativas para o desenvolvimento do
feto, tanto no início da vida quanto na maturidade. “Os bezerros nascidos de
vacas com estresse térmico nascem com pesos menores, são desmamados com pesos
menores e têm uma transferência passiva mais pobre do colostro do que aqueles
nascidos de mães resfriadas”.
As pesquisas mostram, ainda, que os
bezerros de mães sob estresse térmico produzem menos leite em sua primeira
lactação e essa produtividade reduzida se estende também à segunda e terceira
lactação. “Os bezerros nascidos de mães sob estresse térmico têm sobrevivência
reduzida quando comparados aos bezerros de mães resfriadas; bezerros resfriados
ficam no rebanho por 350 dias a mais em comparação aos bezerros sob estresse
térmico. E os bezerros sob estresse térmico passam o pior desempenho para seus
filhos”, relatou Dahl.
Um estudo feito em um grande
laticínio comercial na Flórida comparou os registros de vacas que ficavam secas
no verão com aquelas secas nos meses de inverno. De acordo com Dahl, as que
ficavam secas no verão tinham maior incidência de mastite, retenção de placenta
e doenças respiratórias e produziam menos leite do que suas companheiras de
rebanho secas no inverno. “As vacas secas no verão também demoravam cinco dias
a mais para emprenhar do que as vacas secas no inverno”.
Dahl concluiu enfatizando que as pesquisas apoiam fortemente a ideia de que
vacas secas requerem resfriamento durante todo o período seco, a fim de
maximizar o desempenho e a saúde na próxima lactação. “Estimamos que a falta de
resfriamento de vacas secas custa à indústria de laticínios dos Estados Unidos
aproximadamente US$ 800 milhões de dólares por ano, quando apenas os efeitos
nas vacas são considerados. Um estudo mais recente incluiu os efeitos do
estresse térmico no útero na perda de bezerros e na redução da sobrevivência, o
que aumenta as perdas estimadas para mais de US$ 1 bilhão de dólares
anualmente. Portanto, os efeitos do estresse térmico no final da gestação
precisam ser considerados e gerenciados para melhorar a saúde e o desempenho da
vaca e do bezerro, que também devem proporcionar uma melhora significativa na
situação financeira da propriedade”, finalizou.
Apoio
O 10º Simpósio Brasil Sul de
Bovinocultura de Leite tem apoio da Associação Paranaense de Criadores de
Bovinos da Raça Holandesa, do Conselho Regional de Medicina Veterinária de SC
(CRMV/SC), da Embrapa Gado de Leite, do Icasa, da Prefeitura de Chapecó, do
Sindicato dos Produtores Rurais de Chapecó, do Sistema FAESC/SENAR-SC, do
Sindirações, da Sociedade Catarinense de Medicina Veterinária (Somevesc) e da
Unochapecó.