Uma doença altamente contagiosa, que apesar
de não ser nociva aos humanos tem a capacidade de dizimar rebanhos, a peste
suína africana (PSA) chegou às Américas e volta a preocupar os suinocultores. A
doença foi tema do Painel Biosseguridade desta quarta-feira (11), do 13º
Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS). O evento é realizado
virtualmente, com transmissão a partir de Chapecó.
A doença, que já afetou a China e países da
Europa, foi registrada pela República Dominicana no fim de julho. Essa é a
primeira vez, desde a década de 80, que um país do continente americano
confirma casos da PSA.
O engenheiro agrônomo Leandro Hackenhaar
falou sobre o poder destrutivo da peste suína africana, transmissão, sinais
clínicos, controle e erradicação, além de seus impactos no mercado suíno
internacional.
Originário da África, o vírus que provoca a
PSA foi identificado há mais de cem anos. A doença provoca perda de apetite,
febre alta, sinais respiratórios, hemorragias na pele, vômito, diarreia, sinais
clínicos estes que podem levar à morte de suínos e javalis. As taxas de
mortalidade podem chegar a 100%.
Em 2018, um surto da peste suína africana na
China provocou prejuízos gigantescos. Foi considerado o maior do mundo,
arrasando criações inteiras e trazendo desequilíbrio para o mercado global de
carnes. Ainda em 2019, o vírus se espalhou por outros países do continente e
também contaminou criadouros na Europa.
Além das granjas com baixa tecnificação, que
não conseguem alcançar medidas de biossegurança fortes, os animais selvagens,
como os javalis, são o grande empecilho para a erradicação da doença. No caso
dos javalis, o grande problema é que o vírus pode permanecer na carcaça dos
animais por mais de um ano e qualquer animal que tiver contato pode se
contaminar e transmitir a doença. Por outro lado, Leandro afirma que os javalis
não são responsáveis pela rápida disseminação. A doença só atravessa
continentes com tanta rapidez por causa dos humanos.
O mundo globalizado envolve grande
movimentação de cargas e pessoas e assim a doença se propaga de forma mais
acelerada. “Na verdade, o grande vilão é o ser humano que, por falta de
conhecimento ou simples desrespeito aos cuidados com a saúde, leva consigo a
doença, principalmente nos alimentos, que acaba chegando aos suínos selvagens
ou às produções de baixa tecnificação”.
O especialista alerta que para serem efetivas
a longo prazo, as medidas de contenção ao vírus precisam ser continentais. “O
controle de javalis, o controle de granjas pouco tecnificadas e o cumprimento
das normas internacionais de biossegurança estipuladas pela OIE, são chave para
reduzir os efeitos da PSA em áreas contaminadas e evitar sua disseminação”.
Entre as medidas de combate, Leandro citou
também a compartimentalização que, apesar de ainda não ser mundialmente aceita
quando se trata da importação de carne suína, pode ajudar a amenizar as
consequências da entrada do vírus em uma nação, por dividir o país em áreas com
diferentes status em relação à doença e, assim, permitir que outras regiões
sigam com maior liberdade para produzir e comercializar.
A esperança também está na vacina. Porém,
ainda não há nada concreto até agora. “Apesar de vários anúncios otimistas
sobre alguns progressos relacionados ao desenvolvimento, ainda é difícil prever
quando haverá uma vacina efetiva comercialmente disponível.”
Leandro chama a atenção, ainda, para a
desinformação e para os riscos de que alguns produtores, ao identificarem que o
seu rebanho tem PSA, se desfazem dos animais o mais rápido possível para evitar
prejuízos, como ocorreu na China e no Vietnã, fator responsável por disseminar
tão rapidamente a doença naquela região. “O produtor não pode ter medo de falar
que tem peste suína no seu rebanho, ele tem que ter coragem e incentivo para
falar. Por isso, a importância de fomentar programas que transmitam para o
produtor a garantia de que ele será ressarcido de alguma forma por ter os
animais abatidos, orientando os mesmos a informarem imediatamente as
autoridades em caso da menor suspeita de PSA. Isso é fundamental para reduzir o
efeito da contaminação”.
Embora a suinocultura mundial não esteja mais
no “olho do furacão", o especialista afirma que seguimos em meio à
tempestade e o setor ainda passará por instabilidade, já que o vírus está em
praticamente todos os continentes. Para mudar esse cenário, atuar somente no
território nacional não será suficiente. “As ações não devem focar apenas no
nosso país, mas sim em todo o continente. Acredito muito nas parcerias
público-privadas, em somar esforços para as ações serem rápidas e eficientes.
Em caso de disseminação do vírus no Brasil, por conta da suinocultura moderna que
nós temos, não veremos o mesmo desastre que acometeu a China, mas precisamos
nos proteger para que isso não aconteça, porque uma simples notificação de que
há um foco de PSA será desastroso para qualquer país exportador. Investir na
biossegurança é o diferencial”, pontuou.
Leandro salientou que o suinocultor
brasileiro precisa ficar atento, mas também deve se valer do nosso status
sanitário para crescer. “Como em todas as crises, há muitos perdedores, alguns
sobreviventes e também aqueles que sabem aproveitar as oportunidades. Nosso
desafio é estar preparados como nação para aproveitar as oportunidades do
mercado. Aproveitar que somos um país livre da doença, garantir que nossas
granjas não sejam afetadas, exportar e ter tranquilidade na produção. Essa tem que
ser nossa meta”, finalizou.
12ª BRASIL
SUL PIG FAIR
Em paralelo ao 13º SBSS, ocorre a 12ª
Brasil Sul Pig Fair. A feira virtual reúne as principais empresas do setor e,
além de permitir esse networking com fornecedores, estimula a troca de ideias
sobre produtos e inovações na suinocultura.
APOIO
O 13º SBSS tem apoio da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA),
do Conselho Regional de Medicina Veterinária de SC (CRMV/SC), da Embrapa, da
Prefeitura de Chapecó, da Unochapecó e da Sociedade Catarinense de Medicina
Veterinária (Somevesc).
PROGRAMAÇÃO
DO 13º SIMPÓSIO BRASIL SUL DE SUINOCULTURA 2021
Data
12/08/2021
13h30 às 13h35 - Painel Nutrição
13h35 às 14h15 -
Nutrição de precisão: em busca da máxima eficiência.
Palestrante: Mário Penz
14h15 às 14h35 -
Discussão
14h40 às 15h20 - Visão
estratégica de ingredientes nutricionais (mercado internacional e impacto
interno).
Palestrante: Uislei Orlando
15h20 às 15h40 -
Discussão
15h40 às 15h55 -
Intervalo
15h55 às 16h - Painel Sanidade
16h às 16h40 - O que não
vemos: micotoxinas e suas interações (vacinas, performance, CDRS, desafios
entéricos).
Palestrante: Paulo Dilkin
16h40 às 17h - Discussão
17h05 às 17h45 - Papel
dos agentes primários e secundários no Complexo de Doença Respiratória dos
Suínos e suas interações (foco em Influenza, Mh e APP).
Palestrante: Djane Dallanora
17h45 às 18h05 – Discussão