O debate sobre disponibilidade de água para a produção agropecuária não é recente, mas continua extremamente relevante. O tema foi explanado na palestra sobre “Qualidade de água: sustentabilidade x crise hídrica” pelo engenheiro agrônomo Antônio Mário Penz Junior, mestre em Agronomia, PhD em Nutrição e pós-doutor em Nutrição de Aves no 22° Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), evento promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet) que encerrou nesta quinta-feira (7). Paralelamente, ocorreu a 13ª Brasil Sul Poultry Fair. Os eventos foram híbridos, com realização no Parque de Exposições Tancredo Neves, em Chapecó (SC), e transmissão on-line ao vivo.
Mário Penz
iniciou sua explanação lembrando que a indústria 4.0, as tecnologias e as
inovações são importantes, mas não se pode esquecer do básico. “A indústria 1.0
continuará existindo. Os frangos não têm saliva, o que os impedem de comer.
Eles tomam duas vezes mais água do que comem, sendo que a disponibilidade de
água é fundamental para o consumo da ração e o desenvolvimento da ave”.
O palestrante
apresentou números sobre a disponibilidade de água no Brasil e no mundo e
reforçou que é fundamental saber usá-la. “A proteína de frango é a que consome
menos água em relação às outras proteínas de origem animal”, frisou, ao citar a
consciência e sustentabilidade com a captação de água da chuva, por exemplo.
“Um galpão de 16mX150m pode acumular aproximadamente 3000 metros cúbicos de
água por ano. Um lote de 35 mil frangos consome 450 metros cúbicos”.
Salientou que
além da preocupação com a qualidade da ração, deve haver atenção com a
qualidade de água para o consumo dos frangos. “No primeiro dia, depois do
alojamento, os pintos bebem 40% de seu peso corporal. Esse consumo é importante
para recuperar a desidratação que ocorre depois da eclosão, no incubatório e no
transporte”.
Mário Penz
realçou a importância de indicadores sobre o consumo de água nas propriedades.
Expôs que em dietas fareladas os frangos bebem dois litros de água e consomem
um quilo de alimento, em dietas peletizadas a relação é de 1,6 litro de água
para um quilo de alimento e com dietas com partículas grossas há redução do
consumo de água em até 10%.
Porém, há dados que não são
conhecidos, como a quantidade de água usada em painéis evaporativos, para
limpeza, para molhar os frangos antes da saída da granja, para outros animais e
pequenas plantações e para as necessidades domésticas. “Temos que mudar nossa
preocupação com a água na propriedade, esse deve ser o primeiro aspecto a nos
comprometer com a produção de frango”, concluiu o especialista.
BEM-ESTAR
E SAÚDE INTESTINAL
Para encerrar a programação
científica do 22º SBSA, a professora associada na Universidade Estadual
Paulista (Unesp), Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Ibiara
Correia de Lima Paz, palestrou sobre “Bem-estar e aspectos
relacionados à saúde intestinal”.
Ibiara frisou que
é preciso mostrar que bem-estar não é algo de outro mundo e que o bom senso
ajuda bastante nessa tarefa. “Às vezes mudando o manejo, se melhora muito o
bem-estar. Nós descobrimos com anos de pesquisa que a integridade intestinal
melhora o bem-estar, por vários motivos. O principal é que a serotonina, que é o
hormônio do bem-estar, é produzida 95% nas células intestinais, ou seja, um
intestino saudável terá maior produção de serotonina. Quando se tem
probióticos, alguns melhoradores de desempenho, que promovem o equilíbrio da
microbiota, consequentemente se tem maior qualidade e maior sanidade”.
A palestrante enfatizou a importância de uma dieta
balanceada, mas que nem sempre o intestino da ave está preparado para absorver
tudo que é oferecido, sendo necessário melhorar a saúde intestinal para
melhorar também a absorção dos nutrientes. “Assim, diminui a excreção de
nitrogênio e melhora a qualidade da cama, consequentemente, diminui a liberação
de amônia no ambiente e as aves ficam mais tranquilas por conta da serotonina,
não se arranham, não se bicam”, explicou Ibiara, ao acrescentar que esse
conjunto de fatores aprimora, ainda, a qualidade de carcaça. Fica mais fácil de
realizar o manejo pré-abate. Consegue-se andar entre as aves sem que elas pulem
e se batam”.
Ibiara ressaltou que os consumidores estão mais conscientes
e exigentes. “O bem-estar animal está cada vez mais em evidência e ter essa
agregação de valor ao produto, além de uma perda menor por condenação ou perdas
na carcaça, ganha-se em reais por evitar danos e ter um animal com bem-estar
melhor”, finalizou.
O 22º SBSA teve apoio da
Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do Conselho Regional de
Medicina Veterinária de SC (CRMV/SC), da Embrapa, da Prefeitura de Chapecó, do
Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) e da
Sociedade Catarinense de Medicina Veterinária (Somevesc).